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Literatura - 01 de nov

Utopias e distopias: espelhos de lugar nenhum

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Por Luís Mauro Sá Martino

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Você provavelmente já ouviu a palavra "utopia", ou sua versão como adjetivo, "utópico", para fazer referência a algo ideal, muito bom, mas impossível de ser atingido na realidade. E, de certa maneira, essa noção não está muito distante do sentido original do termo: "utopia" vem do grego "u", próximo de "não" ou "nenhum", e "topos", que significa "lugar" (por isso o estudo de uma paisagem é uma "topografia"). Por isso, não seria errado dizer que uma utopia, nesse sentido contemporâneo, é algo muito bom mas que, literalmente, não pode ser encontrado em lugar nenhum.

A palavra, no entanto, tem sua origem moderna na politica. Ao que tudo indica, o primeiro uso da expressão aparece como título do livro do filósofo inglês Thomas More, publicado em 1516. O livro apresenta uma sociedade perfeita, situada na ilha de Utopos. Lá não existe o mal, a propriedade é coletiva, não há divisões religiosas e ninguém passa necessidade - mas também não há luxo, excessos ou desperdício.

Um dos objetivos da obra de More era, ao mostrar uma sociedade perfeita, criar uma referência para mostrar os problemas de sua própria época. Na filosofia, esse procedimento não era exatamente novo: Platão, em “A República”, e Tommaso Campanella, em “A Cidade do Sol”, também apresentaram propostas do que seria um mundo perfeito.

Mas a ideia de More rendeu frutos também na literatura. A chamada "literatura utópica", em linhas gerais, mostram sociedades mais ou menos ideais, nas quais todos os principais problemas foram solucionados - embora conflitos, em algumas vezes, continuam existindo.

E foi na literatura também que as utopias encontraram seu oposto, as "distopias". Esse nome, tomando alguma liberdade, poderia ser vertido como "lugar errado", e se refere a utopias negativas - se utopias mostravam lugares em sem problemas, nos quais as principais questões humanas estavam resolvido, distopias mostravam futuros sombrios, estados totalitários nos quais populações são mantidas sob controle a partir da força - ou do uso sistemático de alguma substância química.

Livros como "1984", de George Orwell, "Admirável mundo novo", de Aldous Huxley, ou "O conto da aia", de Margareth Atwood, apresentam sociedades distópicas, nas quais a maior parte das pessoas vive em um estado de profunda infelicidade - acreditando, em alguns casos, que estava tudo bem.

Utopias e distopias, em seu valor politico e literário, podem ser lidas como espelhos das condições e ideias da época em que são escritas. Ao falar de lugares imaginários, apresentam alegorias sobre o momento vivido - e sobre os futuros por viver.

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Luís Mauro Sá Martino

Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP, foi pesquisador-bolsista na Universidade de East Anglia, na Inglaterra. É professor da Faculdade Cásper Líbero, e atua também em cursos de especialização online da PUC-RS, SEPAC, Digicorp-USP e da Casa do Saber, além de ser palestrante em empresas, escolas e universidades. Publicou, entre outros, os livros Sem tempo para nada: como tudo ficou acelerado, porque estamos tão cansados e as alternativas realistas para mudar (Vozes, 2022), Teoria da Comunicação (Vozes, 2009), Teoria das Mídias Digitais (Vozes, 2014) e Ética, Mídia e Comunicação (Summus, 2018), este último com a profa. Angela Marques. É também autor de The Mediatization of Religion, pela editora britânica Routledge, e cerca de cento e sessenta artigos em revistas científicas do Brasil e do exterior.

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