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Jacques Lacan na rua, de perfil, com um charuto
Psicanálise - 16 de set

Para Entender Lacan | Parte 1

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Por Christian Dunker

ícone tempo de leitura Leitura: 20 mins

Aviso: este material é uma transcrição do curso “Para Entender Lacan”, realizado pela Casa do Saber e pelo professor Christian Dunker em julho de 2021. Por se tratar de uma transcrição, as frases não seguem necessariamente uma ordem ou linha de raciocínio semelhante ao de um texto escrito.

Do retorno a Freud ao desenvolvimento da psicanálise lacaniana

Vou trabalhar com um método, vamos dizer assim, que parece realmente importante no caso deste autor, que é de pequenos fragmentos do texto. A gente vai ver daqui a pouco, o Lacan se caracteriza pelo seu ensino oral. Ele só publicou um livro em vida, Os Escritos, em 1966. O resto que a gente tem são conferências semanais que ele dava nesse formato de seminário, e o seminário foi então compilado e posto no formato de um livro, mas não é bem um livro no sentido de que alguém pensou então em início, meio e fim, organizou a coisa e executou aquele plano de ação. Os seminários são erráticos, vão e voltam, conta piada, fala do cotidiano. Os seminários são um laboratório.

Então vou tentar trazer para vocês não só as ideias de Lacan, mas essa curiosa combinação que ele inventou entre conceitos bastante avançados, bastante exigentes, e a forma que a gente poderia dizer assim, é uma forma de pretensões literárias. Poderíamos até dizer de uma literatura meio passadiça - como ele dizia, “sou o Góngora da psicanálise” -, barroca, cheia de rococós e palavras complicadas, de alusões, ironias... E isso tem um sentido. Espero que no final da nossa jornada esse sentido fique mais claro. Ou seja, por que ele tinha que ser tão complicado? Por que não vai direto ao ponto?

Esses fragmentos de texto, fazendo uma primeira vistoria na nossa longa viagem. Jacques Émile Marie Lacan nasceu em 1901, morre em 1981, não tão distante de nós, portanto. Foi um médico psiquiatra e neurologista que apresentou o que foi considerado por muitos a última grande tese em psiquiatria em 1932 – Da Psicose Paranoica e suas relações com a personalidade. Foi alguém que conviveu intimamente com a filosofia da sua época e com os movimentos estéticos da sua época. Lacan se desiludiu com a medicina e procurou a psicanálise a partir de uma mediação muito precisa, que é a mediação dos surrealistas. Ele era médico pessoal de Pablo Picasso, amigo de Salvador Dalí, colega de boemia de Jacques Prévert, de Paul Éluard, daquilo que o surrealismo fez de melhor na poesia. Do surrealismo ele trouxe uma ideia muito importante: não dissociar a forma do conteúdo. Se a gente for falar de um objeto, é preciso usar uma linguagem que esteja à altura daquele objeto, senão você perde tudo. Senão você não consegue acessar a realidade mesma desse objeto. Daí que os surrealistas tenham trabalhado com um método de duplicação, em que se duplica, deforma, repete a realidade, porque assim a apreendemos melhor na deformação, na subtração, na negação de algo que estaria lá, mas que não conseguimos acessar diretamente. A acessamos por esse recurso surrealista.

Lacan vai trazer uma inovação muito importante para a teoria do tratamento, que é de sessões com tempo variável. Pode-se ter uma sessão mais longa em um dia e mais curta em outro. Por quê? De novo, esse mesmo princípio de que um processo que está definido por uma relação de linguagem, de fala, deveria também comportar, a cada momento, uma definição dada pela linguagem. Dada pela relação na linguagem e não algo arbitrário, cronológico, que possamos convencionar – meia hora, 40, 50 minutos, uma hora. Tanto faz a convenção. O fato é que a convenção desrespeita o tempo próprio do que está acontecendo ali. E o tempo faz parte da coisa. Outra ideia que vem do surrealismo de um lado e da tradição filosófica hegeliana, da dialética, de outro. Os modos pelos quais a gente aprende uma coisa definem a coisa. E mais: os modos pelos quais a gente aprende uma coisa definem quem está aprendendo aquela coisa. Por isso ele tenta justificar isso com uma teoria da lógica temporal, desdobrando a nossa experiência em três grandes registros que vão acompanhar toda sua teorização: o imaginário, o simbólico e o real. Ele entende que não discernir estas três dimensões atrapalha muito a apreensão da experiência, porque a gente vai confundir experiência com imagem – a coisa não é essa imagem; a coisa com o que a gente pode dizer sobre a coisa, com o que podemos representar, simbolizar sobre a coisa – a coisa não é só o que a gente representa e pode saber sobre ela; além da imagem e do pensamento sobre a coisa existe algo que nos escapa, que é a coisa enquanto coisa. A coisa enquanto real. Ele vai dizer que é exatamente para essa dimensão, para esse caminho, que se coloca uma análise na vida de uma pessoa.

O que faz alguém procurar um analista, um terapeuta, uma cura pela fala? Tem algo na vida que está além do que se consegue colocar em imagens e do que se consegue pensar. É justamente esse real que está em cada um que o Lacan põe então no horizonte do tratamento, da cura, e diz: consequentemente a psicanálise tem de ser capaz de traçar ou conceitualizar esse real.

Um dos motivos pelos quais Lacan acabou se tornando tão conhecido é também a sua péssima relação (ou uma relação conturbada) com outras escolas de psicanálise, que quando começaram a se deparar com novidades desse tipo – tempo variável, analista falando sobre filosofia, religião, matemática, analista que não se submetia muito bem ao que se esperava de um analista nos anos 1940, 1950 -, levaram à exclusão, à expulsão de Lacan da Sociedade Internacional de Psicanálise em uma de suas maiores cisões. Lacan elaborou um “contraprograma” do que seria a formação de um psicanalista, que é próprio das escolas lacanianas. Se tornou, a partir de 1966, bastante conhecido, influenciando outras áreas do conhecimento, e fez várias viagens debatendo, transmitindo sua teoria. Lacan era muito interessado pelo Oriente – falava um pouco de chinês, estudou chinês a vida toda, visitou o Japão, conhecia a tradição indiana, hindu – e, de certa forma, traz isso também para a sua teoria. Então, é um autor bastante heterogêneo, onívoro, que devorava de tudo, não só os tipos de ciência, mas tipos de filosofias, variantes da antropologia, da lógica, como a gente vai ver.

Aqui vocês tiveram uma apresentação mínima do nosso personagem. Vamos tentar, então, apresentar o que seria a entrada do Lacan na psicanálise.

Tínhamos visto que ele vem da psiquiatria, a tese dele usa um pouco de Freud, mas é uma tese ousada em termos de psiquiatria. Ele tenta mostrar, a partir de um caso clínico – o caso da Aimée – que existe um tipo de psicose que ainda não teria sido descrito pela literatura, que é a psicose de autopunição e que tem uma série de características que ele vai apresentar a partir desse caso, mas, entre elas, uma coisa absolutamente inovadora, que é uma psicose curável. Ou seja, uma psicose reversível. Isso não se tinha muita notícia naquele momento, em 1932, e isso passa pelo caso que vou resumir aqui para nosso começo de conversa.

Aimée é o nome que ele dá – "Amor" – a uma funcionária dos correios, escritora, que tem os seus livros recusados e que começa a entabular que existe alguma coisa por trás dessas recusas. Ela gosta muito de escrever, vem do interior da França e acredita que tem para si um destino glorioso, maior, de ser reconhecida como escritora. Ela é recusada e também começa a ter algumas ideias estranhas em torno do próprio filho, sentindo que ele está em perigo sem saber exatamente por quê, mas o filho dela está sendo ameaçado. Ela lê notícias de jornal e intui que aquela notícia é uma ameaça, que está falando do filho dela. Em um determinado dia ela abre o jornal e vê que uma atriz muito famosa, Huguette Duflos, vai fazer uma apresentação em Paris, num teatro. Imediatamente ela liga os filmes que assistiu com a atriz aos escritos dela – como se a atriz estivesse encenando seus livros. Ela teria escrito, ninguém aceitou, mas, na verdade, “eles” teriam roubado suas ideias. Aimée conclui então que aquela atriz está organizada junto ao pessoal do cinema e das editoras para recusar seu livro e fazer mal a seu filho. Naquela noite, então, ela se dirige ao teatro e, com um pequeno canivete, ameaça Huguette Duflos sem que fique claro porque ela a está ameaçando. Ela é presa, levada para uma chefatura de polícia que é dirigida, em sua parte psiquiátrica, pelo professor de Lacan, Gaëtan Gatian de Clérambault.

Clérambault pede que Lacan cuide de Aimée. Ele começa a escutar sua paixão literária, seu delírio de que havia um complô contra ela, até o dia em que Aimée fala, ele a questiona sobre como as coisas aconteceram e ela cai em si, e diz que não devia ter feito o que fez. Lacan acredita que ela se deu conta do delírio, algo muito difícil para um paciente psicótico (reconhecer que se é acometido por ideias, interpretações, alucinações). Ele viu isso acontecer diante dele e no interior daquela relação em que ele estava escutando.

A partir disso, Lacan questiona por que Aimée teria melhorado, e por que teria atacado essa “rival”. Sua conclusão é de que essa figura da atriz tão famosa é a realização acabada do ideal de vida de sua paciente – ela estava atacando ela mesma no outro, atacando em outra pessoa o fato que denunciava sua própria insuficiência. Diante disso, entendeu que era preciso uma nova teoria da personalidade. O que se entendia por personalidade até então – o indivíduo soberano que realiza livremente contratos e acordos, que conhece a si mesmo, que é transparente a si por baixo das máscaras que o definem como uma pessoa – não era mais suficiente, era uma definição ideológica de personalidade. Lacan entendia que a psiquiatria e a psicanálise mereciam mais, e que era preciso uma teoria científica sobre o que é a personalidade. Em sua tese ele formulou três critérios para definir um conceito mais adequado da personalidade: não o “Si mesmo”, o que se acha sobre si, mas algo que respondesse três problemas.

Primeiro, como contamos uma história ou biografia sem lacunas- para contar quem sou eu, preciso contar a história da minha vida, que deve ser dotada de coerência, ter uma unidade, como um romance ou uma tragédia, mas deve ter começo, meio e fim, podendo criar personagens no meio; deve ter uma lógica para isso na medida em que se tem uma personalidade. A segunda condição é que a personalidade deve realizar uma operação de síntese de representações, ou seja, deve-se olhar para o mundo e ver isso também como uma unidade. Ou seja, uma unidade coerente, em que eu possa perceber sempre fragmentos (porque as imagens que temos do mundo são sempre fragmentárias, um pedaço do que existe em volta). Há algo em mim que cria uma unidade disso tudo, uma unidade que podemos chamar “o mundo”. O mundo e minhas representações sobre ele. Isso ultrapassa o que estou vendo.

Terceira característica: um bom conceito de personalidade deve ser capaz de compreender isso que a gente viu no caso da Aimée: que nossas vidas estão marcadas por uma espécie de contradição ou de descompasso com o processo social. Traduzindo: quando a gente é pequeno, nossos pais nos criam, nos transmitem palavras, desejos, ideais, valores, fazem o melhor que podem com isso. Fazem o melhor que podem antecipando um mundo que virá quando essa criança sair da família, for para a escola, depois para o trabalho e assim por diante. Ou seja, os pais fazem isso tendo em conta o que foi sua experiência anterior de vida, o que foi sua própria educação. Logo, estão numa espécie de atraso estrutural em relação ao mundo em que essa criança vai efetivamente viver. Lacan diz que há uma contradição não eliminável entre as expectativas sociais, aquilo para o qual fomos criados, educados, ensinados, e o real. Real quer dizer aí a realidade social, que não se ajusta com o ideal que nós temos para os nossos sujeitos. Aqui a personalidade tem que dar conta desse problema de que existe uma tensão, uma contradição entre o que se espera de nós e o que nós podemos entregar para o outro.

Vamos ler como isso aparece lá na tese:

Ora, este princípio de realidade não é de modo algum separável do princípio do prazer, se não comporta pelo menos a raiz da objetividade. Isto é, o princípio de realidade só se distingue do princípio de prazer num plano gnosiológico, e que, assim sendo, é ilegítimo fazê-lo intervir na gênese do Ego, uma vez que ele implica o próprio Ego enquanto sujeito do conhecimento. (Lacan, J. (1932) Da Psicose Paranoica em suas Relações com a Personalidade. Rio de Janeiro: Forense Universitária, p. 332)

A gente vê a realidade a partir dos nossos interesses, desejos, intenções e necessidades de produção de prazer. Apesar disso, objetividade tem de estar presente. Este é um parágrafo encrencado. O que está sendo dito aqui, trocando em miúdos? Freud inventou a ideia de que estamos divididos entre o princípio de realidade (adie, sacrifique seu presente para criar um futuro, não agora, não tão diretamente e objetivamente em direção ao fim) e o princípio do prazer (quero tudo agora, quero satisfação). Lacan pega isso e diz haver um problema na psicanálise e na teoria freudiana do Eu – Freud está sobrepondo duas acepções de Eu sem perceber. Uma é o Eu enquanto uma instância de conhecimento, e nisso o Eu seria igual para todos, porque conheceríamos todos da mesma maneira. A outra face do Eu é a face psicológica, nascendo cada um em um país, em uma classe, uma época, ou seja, absolutamente contingente e variável. Na verdade, único, mas com duas faces: uma universal e outra repleta de contingências particulares. Vejam o que ele está dizendo: a psicanálise precisaria de uma nova e melhor teoria do sujeito. E o que se sabia sobre o sujeito e entender sobre ele? Que esse sujeito é conflito, é dividido, não é um, mas dois. De onde ele tirou isso? De um poeta, Arthur Rimbaud, que dizia “o eu é um outro”.

Então essa ideia de que a gente é um indivíduo é uma ideia problemática. Ali onde a gente se comporta como indivíduo, estamos negando, negociando, suturando o fato de que, no fundo, o Eu é dois, não um. O Eu é o Eu e sua sombra. O Eu é o Eu e seu ideal. O Eu é o Eu e seus objetos.

O plano dele para a psicanálise é trazer isso, essa concepção de sujeito, de personalidade, para melhorar a teoria psicanalítica sobre o nascimento do Eu, que é também conhecida como Teoria do Narcisismo. Freud, diz Lacan, tinha percebido isso. Quando ele escolheu para batizar narrativamente essa gênese do Eu um mito grego que fala do dois, que é o mito de Narciso. Para Freud, é no decorrer do narcisismo, no decorrer do confronto com o espelho – olha aí, o Outro – que eu me apreendo como um. No entanto, vou ter que diferenciar um sujeito com esse momento de apreensão do Eu enquanto esse espelho, esse Eu e sua voz, Eu e sua consciência, que nos acompanha e do qual temos uma intuição.

Além de introduzir uma nova versão sobre o que é o Eu, Lacan diz que isso vai mudar muito o que era feito com os analisantes. Não era uma reforma intelectual, conceitual, epistemológica, ou gnosiológica, conforme a palavra que aprendemos. Isso é uma reforma da maneira de entender o que a gente faz:

Ele [o analista] opera em dois registros, o da elucidação intelectual, pela interpretação, e o da manobra afetiva, pela transferência, mas fixar os tempos delas é uma questão de técnica, que as define em função das reações do sujeito: ajustar sua velocidade é uma questão de tato, pelo qual o analista é alertado sobre o ritmo das sessões. (Lacan, J. (1936) Para Além do Princípio de Realidade. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 88)

Transferência é essa propriedade das relações que Freud descreveu como condição para todo o tratamento psicanalítico. O que a gente trata não é a neurose selvagem, não é a psicose no seu estado bruto. O que a gente trata é uma versão comprimida disso, uma versão miniaturizada disso, que vai acontecendo na relação entre analista e analisante. Ou seja, entre analista e analisante: vou falando da minha vida e, de repente, estou representando minha vida com ele ou com ela, estou dramatizando, repetindo. Esta é a transferência. No entender do Freud, como lidar com a transferência é a questão mais complicada de toda a clínica psicanalítica. Uma boa relação de transferência promete muito para o tratamento. Uma relação de transferência muito erotizada, muito hostil, pouco empática reduz as pretensões e chances do tratamento.

Ritmo é um conceito que vem da literatura – o ritmo do texto, da fala, dos acontecimentos dentro daquela relação. Manejar a transferência, a relação, tem relação com manejar o tempo. O que Lacan observou por trás dessa proposta? Muitos pacientes usavam 50 minutos para ser prolixos e, nos 5 minutos finais, fechando a porta e indo embora, falavam o que realmente interessava. Lacan apressava os pacientes como uma maneira de produzir mais inconsciente, de abrir o inconsciente. Não sei se vocês concordam com isso. Não é para fazer o paciente ficar necessariamente angustiado demais e aí ele não fala, não aproveita o que diz, sendo incapaz de se escutar. Porém, um tanto de pressa, um tanto de aceleração faz com que a gente não pare tanto para pensar, medir, meditar, criar uma representação perfeita, dizer aquilo que a gente acha que o outro está querendo ouvir. A pressa é inimiga da perfeição – perfeito, é o que se quer na análise, a imperfeição das pessoas. Que elas sejam postas em trabalho, posta e trazida para dentro dessa relação e não imagens perfeitas de como a gente deveria ser.

A verdadeira solução para a teoria do sujeito vai vir com a chamada tópica do imaginário. Aqui a gente vai ter um experimento que Lacan tira da física, o experimento do [Henri] Bouasse:

O estádio do espelho como uma identificação, no sentido pleno que a análise atribui a este termo, ou seja, a transformação produzida no sujeito quando ele assume uma imagem (...) é um drama cujo impulso interno precipita-se da insuficiência para antecipação – e que fabrica para o sujeito, apanhado no engodo da identificação espacial, as fantasias que sucedem desde a imagem despedaçada do corpo até uma forma de sua totalidade que chamaremos ortopédica. (Lacan, J. (1937-1949) Estádio do Espelho como Formador da Função do Eu tal qual nos revela a experiência psicanalítica. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 97-100).

O que significa identificação para a psicanálise? “A transformação produzida no sujeito quando ele assume uma imagem”. Quando ele olha para uma imagem e, num gesto subjetivo (não algo imposto), quando toma uma imagem com um valor simbólico, e a vê como algo que o representa. Toda vez que o sujeito diz “isso sou eu”, toda vez que vive isso, o sujeito se transforma. É assim que nasce o sujeito – o Eu. É uma outra versão da nossa duplicidade: de um lado nascemos insuficientes (o que os biólogos chamam de “neotenia”, o fato de que o bebê humano devia nascer com 14 meses de gestação, mas nasce menos bem feito do que um filhote de outros animais), Por que nascemos insuficientes? Dizem os biólogos – e Lacan compra essa ideia – que nascendo assim nos vinculamos com o outro, temos uma espécie de dependência ou fragilidade que vira uma virtude. A partir de então, passamos a andar em bandos nos protegendo, caçando e coletando juntos. Somos uma espécie social à base dessa insuficiência. Porém, não somos só essa insuficiência, mas também algo que só a cultura poderia ter inventado, que é sermos mais do que nós mesmos, a antecipação do que queríamos ser naquilo que nós somos.

A antecipação do que nós queremos ser está presente naquilo que somos. Mais simples: eu sou também os sonhos que posso ter, o futuro que imagino para mim. Há algo em mim mais além do que a imagem que os outros podem perceber, que é o que eu me simbolizo enquanto futuro, enquanto outro. Esse drama é o drama da insuficiência e antecipação. Redescrevendo: menos do que o ser, mais do que o ser – e o ser, ele mesmo, escapa. Isso que nos constitui então como uma espécie de vazio central. Lacan define essa posição, esse vazio, a falta, como o que nos torna desejantes.

Estarmos apanhados “no engodo da identificação espacial” é o olhar só para a imagem e não o que ela simboliza, enquanto “as fantasias que sucedem desde a imagem despedaçada do corpo” aludem a uma das características da nossa insuficiência - lembra o bebê, que se vê como várias partes que têm sensações, reflexos, mas não estão sob o comando de uma consciência unificadora. Por fim, o fato de nos sentirmos um é uma ortopedia, uma forçagem para aquilo que efetivamente somos: mais fragmentados do que gostaríamos de nos imaginar, menos indivíduo (“divíduo”, que pode ser dividido) do que gostaríamos de ser.

A experiência de Bouasse é muito interessante:

O experimento de Bouasse usado por Jacques Lacan para representar o estádio do espelho

Imagine uma pessoa na posição do olho (topo esquerdo, ao lado tem um S’, que na álgebra lacaniana, o S barrado é o sujeito dividido do qual estamos falando). Esse olho vê um espelho plano, no meio do desenho. O espelho plano reflete o olhar para um esquema real, que é um buquê de flores que está em cima, e um vaso de flores que está embaixo da mesa. O real do corpo, o real que olhamos e o que está acontecendo ali é o corpo desconjunto – vaso vai para um lado, flor vai para o outro. A partir destes dois espelhos, o que se produz é uma ilusão, o que vemos mais à frente, em que a mesa mudou de lado, aparece o vaso em cima e a flor dentro. O Eu e sua imagem se reconciliaram, se acreditam unos à base de um sistema de ilusões. Isso está em Hegel também: o que é a história da consciência que ele descreve na Fenomenologia do Espírito, desde os gregos até o nascimento do indivíduo no século 17 e 18 com a abolição da escravidão, no capítulo chamado “A dialética do senhor e do escravo”. É a história das nossas ilusões, de como a consciência guarda dentro de si as ilusões, os enganos que por outro lado a formaram enquanto consciência. Lacan aplica essa ideia hegeliana ao esquema, a um experimento físico de óptica, e trata esse modelo como algo que nos ajuda a entender o que é um sujeito. O sujeito se distingue do Eu, fragmentado, e adquire uma forma ortopédica em que o sujeito se aliena. Vamos em frente.

Lacan pensou essa tópica do imaginário e entabulou que a questão é como separamos imaginário e simbólico. Forçando um pouco a mão: o sujeito universal e o conhecimento como instância simbólica, e o Eu uma instância de alienação, desconhecimento, conflito, briga com a própria imagem e corpo, o imaginário. O que é, em última instância, o simbólico? Ele usa a noção de símbolo, mas não explicou ainda o que quer dizer. O simbólico vai definir mesmo o que Freud chamou de inconsciente. Em várias acepções, o simbólico são as regras que nos comandam sem que percebamos: regras econômicas, linguísticas, ideológicas, antropológicas, as que vocês quiserem. Quando falamos uma língua, usamos essas regras (por exemplo, sujeito, verbo, predicado, orações em português que terminam desse jeito, palavras que sucedem palavras), sabemos disso tudo, mas não nascemos sabendo, nem conseguimos explicitar essas regras. Nós as aprendemos na escola, mas é algo artificial. A questão toda é que nesse momento de formação do Eu, de produção de uma unidade, ele vai ter que responder do outro lado como se forma a unidade do simbólico. O que teria organizado o simbólico do ponto de vista freudiano? Assim Lacan chegou na ideia do Complexo de Édipo e trouxe para a psicanálise um desdobramento, uma requalificação deste conceito. O Complexo de Édipo não é o primeiro que vivemos, mas sim o Complexo de Desmame, em que devemos nos separar desse corpo que desconhecemos, que nem sabemos que existe, mas do qual devemos nos separar. Isso deixa rastros, cria ilusões, retrospectivas, deixa marcas. O segundo complexo, que tinha sido pouco tematizado pela psicanálise até então, é o Complexo de Intrusão, que Lacan associa à chegada de irmãos e à emergência do afeto de ciúmes, inveja, o afeto de que a criança era tudo para os pais e, de repente, surge algo a mais. “Como é possível que eles queiram algo a mais do que eu?” Isso perturba o sujeito e seu narcisismo, faz com que ele volte para a situação de crise – “sinto que eu sou um vaso que está para baixo e flor que está para cima”, situação experimentada na angústia.

É depois dessas duas crises que surge a crise edipiana. Ou seja, de como elaboramos que além do filho, a mãe deseja o outro não só pela aparição de irmãos, mas com quem ela faz coisas que não faz com o filho. Ela deseja um outro que exerce sobre ela uma novidade: a capacidade de limitação, de dizer “você não vai reincorporar essa criança que foi o seu produto, nosso produto; ela pertence ao social, não foi feita para nós como um brinquedo de mil e uma utilidades”. Esta lei, esta afirmação, é uma afirmação muito importante, porque ela tira a criança do universo da família e apresenta para a criança outra lei. Para Lacan, esta seria a função fundamental do pai, apresentar o simbólico. Quer dizer que o simbólico se apreende não por esta família, mas pelo sistema das famílias, e pelo fato de que no sistema das famílias temos uma única grande regra universal, a única lei universal não convencional, que é a interdição do incesto. Não é permitido casar com a mãe, o pai, o tio, o avô – as interdições variam, mas o fato é que são universais. Aí se chega nessa formulação:

Mas um grande número de efeitos psicológicos parece-nos decorrer de um declínio social da imago paterna. Um declínio condicionado por se voltarem contra o indivíduo alguns efeitos extremos do progresso social: um declínio que marca, sobretudo em nossos dias, nas coletividades mais desgastadas por estes efeitos: a concentração econômica, as catástrofes políticas. (Lacan, J. (1938) Complexos Familiares. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 66-67).

Seis anos depois da tese, Lacan diz que o pai está caindo, está em baixa, sendo cada vez mais reduzido a uma pessoa comum. Veja que ele estava dizendo isso num arco histórico que vem lá do começo da Modernidade até 1938. Qual é a sacada aqui? A psicanálise só se tornou possível porque proliferou na nossa cultura um tipo de sofrimento baseado na nossa contradição em relação à lei. Lembre que falamos sobre isso quando mencionamos sua tese de 1932. Existe uma contradição de expectativas sociais que recaem sobre nós e o que nós conseguimos cumprir (nosso papel). Nunca estamos ajustados aos nossos papéis, estamos sempre em inadequação, em insuficiência. Por que isso acontece cada vez mais? Justamente porque não acreditamos mais na autoridade transcendental do pai. As narrativas religiosas começam a declinar, a figura do pai que impõe com mão de ferro seu poder sobre todos os filhos e sobre a mulher começa a ser questionada, o patriarcado começa a ser relativizado como uma convenção que não tem nada de natural.

Lacan observou isso e notou esse declínio social da imago paterna, que produzia um tipo de sofrimento chamado neurose. Quanto mais declínio, mais neurose – não sabemos. É possível que, se o declínio continuar como continuou, as grandes neuroses (histeria, neurose obsessiva, fobia) vão ser substituídas por neuroses de caráter, ou por neuroses narcísicas. E isso de fato se confirmou. Cada vez menos há pessoas que nos procuram a partir de sintomas – tipo uma ideia obsessiva – e cada vez mais por um sofrimento narcísico (sentimento de tédio, de pouca relevância, de indefinição e incerteza sobre o que se quer da vida, de inadequação com o próprio corpo, de insuficiência permanente em relação aos outros). Ou seja, crise permanente com a nossa imagem. Em vez de “esta imagem boa/ruim me representa e esse é o símbolo que temos”, a pessoa diz “não, essa imagem não, eu quero outra”. Como Aimée – que não queria ser uma funcionária dos correios que escreve livros nunca publicados, mas mais que isso, sofrendo de uma síndrome, o bovarismo (mania que se tornou obrigatória, quase norma, de achar que podemos ser outro).

O diagnóstico não era novo, nem original. Quando o pai declina na sua autoridade, vem a bagunça. O neurótico quer, é sedento, por colocar um pai de novo para calar todo mundo e a ordem social se reinstala. Isso é um desejo neurótico, além de ser conservador político, plenamente neurótico – fazer mais pai, produzir mais pai, porque com mais, haverá uma lei mais autoritária. Um diagnóstico e uma solução conservadora equivocada, no fundo neurótica. O que autoriza a existência social da psicanálise? Uma prática de fala, que ao mesmo tempo nos toma como sujeitos universais e particulares, e que vai explorar nesse caminho do conflito, da divisão, do vazio, a produção de um sujeito singular. Um sujeito que seja capaz de viver bem sua vida, à altura de seu desejo, sem precisar duplicar, triplicar, quadruplicar o lugar do pai enquanto essa unidade que completa e organiza o campo simbólico.

Para terminar essa nossa primeira volta no parafuso, onde estou apresentando o que alguns diriam ser o primeiro Lacan, suas primeiras ideias, um plano de voo – trazer Hegel, juntar com surrealismo, reler Freud, trazer as artes, e ainda a matemática e a ciência. Tudo bem.

Para isso, Lacan vai se interessar então, depois dos complexos familiares e, portanto, depois da discussão com essa forma histórica que vai se transformando (a família), ele vai se ocupar com o fato de que Freud dizia o seguinte: o inconsciente tem uma estrutura simbólica, se compõe de regras que podemos observar na criação dos nossos sonhos. Eles são tão surrealistas, para voltar à palavra, porque seguem regras que não são regras da consciência, mas da deformação da realidade não do mundo como ele pode ser conhecido, mas da realidade dos nossos desejos. Sonhos escondem nossos desejos porque, se nós confrontarmos a realidade dos nossos desejos, encararmos o que foi negado, recalcado – encontrá-los de frente representa o risco de sermos corroídos pela angústia. Com o tempo vamos escutando e, em alguma medida, conciliando, admitindo, subjetivando esses desejos – e esse é o trajeto da análise. Só que Freud dizia algo desagradável para Lacan: que o inconsciente não admite negação ou tempo. Como pensar algo que está fora do tempo e que não admite negação? Há aqui altos teores metafísicos, parecendo algo transcendental. Para responder Freud, Lacan pensa novamente o sujeito, mas agora não aquele produzido pelo seu reconhecimento no valor simbólico da imagem que o representa, e sim aquele que opera numa temporalidade própria (que seria do inconsciente), reconhecendo a tese de Freud, mas questionando-a: e quanto ao sujeito do inconsciente? Será que o sujeito para este inconsciente, decorrente deste inconsciente, não pode ter um tipo de tempo próprio? Lacan tentou demonstrar isso em um texto publicado em uma revista de arte ao final da Segunda Guerra, que vou tentar sintetizar bastante em função do nosso tempo:

Mas a que tipo de relação corresponde essa forma lógica? A uma forma de objetivação que ela gera em seu movimento, qual seja, à referência de um [eu] ao denominador comum do sujeito recíproco, ou ainda, aos outros como tais, isto é, como sendo outros uns para outros. Esse denominador comum é dado por um certo tempo para compreender, que se revela como uma função essencial da relação lógica de reciprocidade. Essa referência do [eu] aos outros como tais deve, em cada momento crítico, ser temporalizada, para reduzir dialeticamente o momento de concluir o tempo para compreender para que ele dure tão pouco quanto o instante de olhar.) (Lacan, J. (1945) O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada: um novo sofisma. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998).

É algo incompreensível se não tivermos em mente que Lacan estava trabalhando com um experimento lógico baseado no seguinte problema: imagine que temos três prisioneiros (contexto de Segunda Guerra Mundial) e um carcereiro. O carcereiro diz ter três círculos brancos e dois círculos pretos, que irá colar aleatoriamente nas costas de cada um, de tal maneira que cada um pode ver o círculo do outro, mas não o seu próprio. Se aquele que se apresentasse a ele dizendo “eu sou um branco/preto” e explicasse, por motivos racionais, por que era como disse, estaria livre. A preocupação do Lacan estava em tirar o inconsciente do campo do irracional, daquilo que absolutamente não se pode conhecer, de torná-lo algo que está aí, nas nossas relações de linguagem. Nesse caso, mais ainda, nas relações de reconhecimento. O projeto de Lacan para este primeiro tempo é tirar o sujeito do seu infinito desejo de reconhecimento do Eu (como bonito, inteligente) e levá-lo a reconhecer qual é o seu desejo (desejo recalcado, inconsciente). Esse sofisma tem três soluções, cada uma delas atinente a um tipo de sujeito que ele descreveu.

Primeira solução é caso ele ponha dois círculos pretos – no caso, o outro necessariamente seria branco, concluindo isso agindo de uma maneira específica como um sujeito imediato, do instante. Vendo dois pretos, logo conclui-se ser um branco, sem ter de parar para pensar. Vamos olhar com mais calma e cautela. E se eu estivesse vendo um preto e um branco? Que cor eu seria?

Um preto e um branco podem deixar ao outro qualquer uma das cores. A solução é simples: se o branco vir um preto em mim, teria saído. Se ele não saiu, é porque sou um branco. Óbvio. Agora, veja só o que tivemos de levar em conta: o outro não saiu, não se mexeu, e esse fato de não ter feito é um ato que deve ser contado. A diferença é toda entre um comportamento e um ato – o ato pode ser um ato negativo (ficar parado). Nesta situação, o outro ter ficado parado quer dizer que ele não me reconhece. Esse tempo em que ele não o fez me permite chegar a uma conclusão, e é disso que ele está falando aqui: “denominador comum do sujeito recíproco”. Este sujeito do “se ele não sai, saio eu, e aí saímos os dois juntos” aparece como uma tradução lógica de uma forma de sujeito muito tematizada pela filosofia, particularmente pela fenomenologia. É o sujeito da compreensão, da reflexibilidade, que pensa como eu (porque ele precisa pensar como eu para não sair). Vamos em frente.

Esse denominador comum entre eu e o outro é “dado por um certo tempo para compreender”. Quanto tempo eu preciso para sacar que o outro não está vendo dois pretos? Pode ser uma vida. Assim como o neurótico pode passar uma vida esperando compreensão do outro, que o outro faça em vez de ele agir, que o outro ligue, que o outro reconheça e, enquanto isso acontece, a vida passa e estamos aí nessa fixação neurótica.

“Que se revela como uma função essencial da relação lógica de reciprocidade. Essa referência do eu aos outros como tais deve, em cada momento crítico, ser temporalizada para reduzir dialeticamente o momento de concluir o tempo para compreender para que ele dure tão pouco quanto o instante de olhar” – os três tempos funcionam juntos. Tempo de ver, de compreender e de concluir, que se refere à situação empírica em que eu vejo dois brancos, e aí é impossível. Como é possível sair dessa enrascada? Hipótese de Lacan: se você não se mexeu, o outro também não se mexeu, é porque estamos no caso em que eu sou o preto e estou vendo dois brancos, enquanto cada um dos demais está vendo um preto e um branco. É o caso dois, do sujeito recíproco. Então vamos embora os três.

No momento em que os três começam a andar em conjunto, todos perdem a certeza que tinham adquirido, porque não poderiam ser livres os três. Só pode ser livre quem vê um preto e um branco – nesse caso, eu devo esperar os outros se mexerem. Ou seja, de forma atrasada. Então eu paro no meio, perdemos todos a certeza. Só que isso faz parte do momento de concluir (de novo a pressa): você precisa se apressar para não ficar para trás e, ao se apressar, você se reconhece nos outros dois. Não são dois brancos e um preto, são todos brancos. E saímos os três livres ao mesmo tempo. Moral da história: a liberdade é para todos, ou não é para ninguém. Se você quer se libertar, vai ter que levar o outro junto, vai ter que se libertar junto com o outro. Uma lição lacaniana muito importante, porque vai ser aplicada no fato de que ninguém cura sua neurose sozinho. Será preciso outra pessoa para dialogar.

Acreditar no instante é um problema neurótico; Ir apenas se outros forem demanda coragem para apressar-se num ato do qual você tem certeza, mas que a certeza se perde, e depois é recuperada em ato. Ou seja, onde o sujeito não pensa totalmente. Ali onde ele não está totalmente ciente do que está fazendo. Exatamente como a gente quer e precisa pensar quando se fala em um sujeito do inconsciente. Não pode ser um sujeito da transparência do pensamento, mas, ao mesmo tempo, não há sujeito fora do pensamento, exterior ao pensar. O sujeito que aparece ali nos equívocos do pensar, nos embaraços do pensar, baseado em Descartes. Pressa e preconceito são as duas fontes do erro. O que Lacan diz é: pressa e preconceito fazem parte do nosso equívoco. É bom reconhecê-lo porque esse é o jeito pelo qual a gente consegue aceder à verdade, e a verdade é que ou nos libertamos todos juntos, ou não vai dar.

Continuação | Parte 2

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Christian Dunker

Psicanalista e professor livre-docente do Departamento de Psicologia Clínica da USP. Tem pós-doutorado pela Manchester Metropolitan University (Inglaterra) e é autor de livros como “Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica” (Annablume, 2012), prêmio Jabuti de melhor livro em Psicologia e Psicanálise em 2012, “O Cálculo Neurótico do Gozo” (Escuta, 2002), “Lacan e a Clínica da Interpretação” (Hacker, 1996), "Uma Biografia da Depressão" (Paidós, 2021) e "Lutos Finitos e Infinitos" (Paidós, 2023).

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