Burnout, trabalho e nossa relação com o tempo
Por Luís Mauro Sá Martino
Você já teve a sensação de estar sempre atrasado e, por mais tempo que dedique às atividades, no final do dia, está sempre devendo algo? Isso para quem não virou a noite para terminar algo e dormiu, por exaustão, algumas horas antes de recomeçar o ciclo.
Os últimos anos testemunharam um aumento exponencial da jornada de trabalho. A flexibilidade, em muitos casos, diluiu as fronteiras entre tempo livre, trabalho e descanso –“trabalho”, aqui, inclui atividades domésticas e o cuidado com os outros.
Não demora muito para o corpo mandar a conta, geralmente alta: a queima completa. Em inglês, burnout. A palavra entrou para o vocabulário nos últimos anos, sobretudo quando personalidades da mídia trouxeram o tema a público.
A expressão se refere a um total esgotamento físico e psíquico, impedindo a realização de atividades. Ao que parece, com a ansiedade e a depressão, o burnout completa um trio de problemas crônicos da época atual.
Mas o burnout não é uma doença. Na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), da Organização Mundial de Saúde, o burnout é um “problema ocupacional”. Suas características incluem “exaustão ou falta de energia, pelo sentimento de distanciamento, negativismo ou cinismo em relação ao trabalho e redução da eficiência profissional”.
Esse cenário está nos tirando do eixo físico e mental. E está ligado, também, à maneira como se divide e utiliza o tempo. A expansão sem limites do horário de atividades compromete os ritmos do corpo. E, na esteira, as demais atividades e as relações pessoais.
Mesmo no tempo livre não paramos um instante: há sempre alguma coisa, uma mensagem ou notificação, demandando atenção. Ou uma postagem nova que precisamos ver. Estendemos o tempo para maratonar mais um episódio de série, às custas das horas de sono.
O circuito fecha com os relatos, às vezes em tom de incentivo, de quem consegue equilibrar vida pessoal e profissional. Isso pode inspirar, mas, ao mesmo tempo, gerar angústia: “Se outra pessoa conseguiu, por que não consigo? Qual é o problema comigo?”.
Como chegamos a este ponto? E, principalmente, como saímos? Se não há uma resposta, existem pistas: autoras e autores como Judy Wajcman e Helmut Rosa propõem uma revisão do que estamos fazendo, começando com mudanças, literalmente, ao alcance da mão: precisamos enviar uma mensagem no meio da madrugada? Vale a pena gastar horas de sono para ver mais um post em uma rede social? Qual o sentido de todas essas demandas?
A filosofia oferece um entendimento mais amplo das causas do burnout e aponta caminhos de transformação: não há solução individual para problemas sociais.
Na plataforma Casa do Saber+, você encontra vários cursos para ampliar seu conhecimento neste assunto. Selecionamos três deles para começar: