A felicidade não pode esperar
Por Luís Mauro Sá Martino
O que você precisa para ser feliz? As respostas mais comuns talvez sejam questões imediatas: saúde, comida e trabalho. Mas isso é só o começo. Para quem vive um amor não correspondido, a felicidade seria uma mensagem da outra pessoa dizendo que gosta de você. Se a questão é emprego, a felicidade é ter o currículo selecionado. A lista pode seguir: mais tempo com os filhos, viajar, ou simplesmente ficar em silêncio no meio de tanto ruído.
A felicidade, nessas respostas, é aquilo que falta. E então bastaria ter o que se quer para ser feliz. No momento da conquista há um senso de plenitude: agora não falta mais nada. Porém, o que vem depois de conquistar o objeto de desejo? A tranquilidade da satisfação volta a ser a agitação de querer outra coisa. Se a felicidade é vista como preenchimento de uma falta, ela se torna uma busca sem fim. Afinal, sempre vai faltar alguma coisa.
O filósofo Arthur Schopenhauer, em seu livro "O mundo como vontade e representação", mostra como esse entendimento da felicidade como preenchimento de uma falta tira o foco da questão principal e nos leva a um looping interminável de busca e conquista. Em uma de suas frases mais citadas, ele diz que, nesse registro, a existência “oscila como um pêndulo entre a ânsia de ter e o tédio de possuir”.
Pode parecer pessimista em uma leitura inicial, mas isso sustenta o hiperconsumo: suprir o que falta em nós com alguma solução imediata, que preenche momentaneamente esse vazio com uma sensação ilusória de felicidade. Não é por acaso que, muitas vezes, frustrações são compensadas com paliativos, deixando de lado questões mais profundas. Como diz a filósofa bell hooks em "Tudo sobre o amor", “o desamor faz maravilhas pelo consumismo”.
Talvez o problema seja a concepção de felicidade. Desde a Grécia Antiga, filósofas e filósofos, de Aristóteles aos epicuristas e estoicos, mostram a felicidade é um estado que se pode – e deve – viver nas condições do momento. Se você espera algo para ser feliz, a felicidade depende desse “algo” – e terá exatamente a duração desse objeto, desaparecendo com ele.
A felicidade, para muitas filósofas e filósofos, está justamente em não esperar nada, mas lidar com as possibilidades do presente. “Lidar”, bem entendido, não é “aceitar”, mas é lembrar que se a felicidade é colocada como um horizonte a ser atingido, quanto mais nos aproximamos dela, mais ela foge de nós.