Saúde Mental e Neurociência: um olhar sensível sobre as emoções
Por Carolina Tosetti
Falar abertamente sobre saúde mental e os processos emocionais é algo recente. Ainda que o acesso a este conhecimento tenha aumentado, é essencial lembrar que mudanças culturais demandam tempo. Na neurociência, a 'saúde mental' não se refere apenas à ausência de questões psicopatológicas, mas também ao equilíbrio entre nossas emoções, cognições e comportamentos. Os processos emocionais na visão da neurociência são complexos e envolvem múltiplas áreas cerebrais que, juntas, determinam nossa capacidade de processar e responder a experiências diárias.
Um levantamento realizado em 2018 pela ISMA-BR já indicava que 72% dos brasileiros entre 25 e 65 anos sofriam com estresse em diferentes intensidades. A relevância das questões de saúde mental tem sido tão pronunciada que, em 2019, o Fórum Econômico Mundial destacou a falta de bem-estar psicológico e a ansiedade como ameaças significativas à economia global. Dali em diante, os efeitos da pandemia de Covid-19 agravaram a situação. Prevê-se que até 2030 os custos relacionados a doenças emocionais alcancem 6 trilhões de dólares, superando as despesas combinadas com diabetes, câncer e doenças respiratórias.
O que a neurociência descobriu: maneiras de contornar o estresse e lidar com psicopatologias
A resposta ao estresse varia entre os indivíduos, mas alguns sinais são universais: impactos no sono, cansaço persistente, irritabilidade, dores recorrentes, entre outros. O estresse, especialmente o psicossocial crônico, pode impactar todo o corpo: ele é um acelerador conhecido de envelhecimento prematuro e agravante de diversas doenças. No entanto, a neurociência também nos indica alguns caminhos.
Mecanismos como práticas de relaxamento, suporte social, autocuidado e estímulo à criatividade são ferramentas poderosas no combate ao estresse e a algumas psicopatologias como ansiedade e depressão.
Desenvolver habilidades de inteligência emocional também pode nos ajudar a entender nossos limites, a melhorar nossa relação com os outros e a exercer empatia, ferramenta poderosa na identificação de sintomas depressivos e crucial na prevenção ao suicídio. Um estudo da APA revelou que pessoas com níveis mais altos de empatia percebem características afetivas e comportamentais associadas ao suicídio como mais sérias e preocupantes. A pesquisa também mostrou que pessoas empáticas apresentaram mais chances de prover assistência a indivíduos que experienciavam dificuldades emocionais. Por outro lado, para os que são alvos de empatia e compaixão, tais ações desempenham um papel fundamental na prevenção ao suicídio.
A importância do sono, da boa alimentação, do atendimento médico e psicológico
O cérebro é um órgão e, como tal, necessita de cuidados específicos. A manutenção de hábitos saudáveis, como um sono adequado, boa alimentação e hidratação, é fundamental para o seu bom funcionamento do corpo como um todo.
O neurocientista Sidarta Ribeiro nos lembra que o sono perdido precisa ser reposto ou compensado, e que as nossas emoções têm um grande impacto na dinâmica do nosso equilíbrio físico, como acontece quando experimentamos a insônia, por exemplo. "Situações de ansiedade moderada causam redução do tempo total de sono REM, mas situações de estresse agudo, como uma emergência de vida ou morte, podem levar a um grande aumento da quantidade de sono REM assim que o perigo imediato desaparece. Tudo isso indica que o sono REM desempenha um papel essencial para a saúde cognitiva do indivíduo."
Reduzir a exposição a situações estressantes e incluir estímulos positivos em nossa rotina proporciona uma maior flexibilidade aos sistemas biológicos e fisiológicos. Além disso, o acompanhamento médico e psicológico é essencial para diagnosticar, prevenir e tratar possíveis desordens.
A neurociência, aliada à psicologia, nos fornece um panorama claro da importância de se cuidar da saúde mental. O entendimento dos processos cerebrais e a identificação precoce de sinais de estresse ou de outras psicopatologias podem evitar desfechos adversos. Em uma sociedade em rápida transformação, é estratégico e vital que voltemos nossa atenção à mente, entendendo-a não apenas como fonte de desafios, mas também de soluções individuais e coletivas. Neste cenário, torna-se crucial reconhecer a importância do autocuidado, da empatia e do suporte profissional sempre que necessário. Percebemos que nutrir uma mente saudável é a chave para uma vida equilibrada, afinal, cuidar da mente é cuidar de todo o ser. Os cursos da Casa do Saber trazem luz ao autoconhecimento neste mês de setembro, confira os novos conteúdos na categoria.
Fontes:
RIBEIRO, S. O Oráculo Da Noite, A História e A Ciência Do Sonho. São Paulo: Companhia das Letras, 2019
https://comportese.com/2016/10/19/prevencao-suicidio-empatia/
MUELLER, M. A., & WAAS, G. A. (2002). "College students’ perceptions of suicide: the role of empathy on attitudes, evaluation, and responsiveness". Death studies, 26(4), 325-341.