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Psicanálise - 23 de nov

Psicanálise e arte: elogios às perguntas

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Por Ana Suy

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A arte anda na frente da psicanálise. Assim foi com Freud, assim foi com Lacan, assim segue sendo com cada psicanalista cuidadoso (se bem que “psicanalista cuidadoso” talvez seja uma espécie de pleonasmo).

Gosto muito de uma frase de Charcot (da qual Freud também gostava, pois a escreveu no obituário de seu mestre): “Teoria é bom, mas isso não impede as coisas de existirem”.

Assim como a experiência anda na frente da teoria psicanalítica, também a arte anda à sua frente. Entendo, com isso, que a arte está muito mais próxima da experiência, do que da teoria.

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Quando a psicanálise senta para conversar com a arte, então, seja por meio do cinema, da literatura ou de outra via, o que ela se propõe a fazer não é psicologizar personagens, tramas ou imagens, mas, sobretudo, aprender com elas. Os artistas ensinam os psicanalistas algo sobre o que fazer com o impossível da vida e da morte.

Por isso a psicanálise, ao lado da arte, são invenções humanas que tanto me interessam. Em um mundo onde estamos cheios de respostas, talvez a arte e a psicanálise sejam algumas das últimas coisas que não pretendem responder a tudo rápido demais.

Quem já começou um tratamento analítico sabe que uma das primeiras coisas que os analistas costumam lapidar nas entrevistas iniciais (os primeiros encontros com um analista) é qual é a questão de cada um. Uma análise é um espaço para que cada um possa trabalhar sua questão com a vida, com o sofrimento, com as relações, mas sempre se trata de caminhar em direção a uma questão. E como é difícil elaborar uma questão! Para saber disso que estou falando, sequer é preciso ter feito uma análise psicanalítica. Quando vamos escrever um trabalho de conclusão de curso, por exemplo, vocês sabem o imenso trabalho que dá escrever um pré-projeto e colocar um problema de pesquisa, que nada mais é do que uma questão. Depois que sabemos qual é a pergunta, nossa relação com as repostas possíveis se altera significativamente. Mas se sequer sabemos qual é a pergunta, as tantas respostas podem atrapalhar mais do que ajudar.

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Por falar em perguntas, que tempos difíceis para fazer uma boa! Certamente você já tentou fazer alguma ao Google, por exemplo. E atestou que isso sequer é possível sem que ele te interrompa, sugerindo/completando sua pergunta antes que você a faça. E aí, com frequência acontece até da gente esquecer da pergunta que ia fazer e se interessar pela pergunta sugerida. Está assim nosso mundo, difícil de sustentar a originalidade de nossas interrogações.

Como já disse Maurice Blanchot, “a resposta é a desgraça da pergunta”. Em um mundo tão cheio de respostas para perguntas que sequer foram feitas, em um mundo onde há tanto passo a passo e modos de fazer desde que você os siga, acho que a psicanálise, ao lado da arte, são grandiosidades a serem bem cuidadas.

Não há como fazer psicanálise ou alguma modalidade artística ali onde estamos cheios de respostas. É só na medida em que sustentamos perguntas, não saberes e lugares de impossíveis e não ditos, que algo da experiencia psicanalítica pode reverberar, que algo da experiência artística pode se fundar – causando efeitos de novos saberes, possíveis e dizeres, ainda que limitados.

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Ana Suy

Psicanalista e escritora. Doutora em Pesquisa e Clínica em psicanálise pela UERJ, mestre em Psicologia pela UFPR, com pós-graduação em Psicologia Clínica - Abordagem Psicanalítica pela PUC-PR. Autora, entre outros livros, de “Não pise no meu vazio: ou o livro do vazio” (Planeta, 2023), “A Gente Mira no Amor e Acerta na Solidão” (Paidós, 2022), “Amor, Desejo e Psicanálise” (Juruá, 2015) e de livros de crônicas poéticas.

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Amor e Solidão: Uma Psicanálise das Conexões Humanas
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