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Filosofia - 09 de jan

Para encontrar a beleza no mundo: reflexões sobre estética e diversidade

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Por Carolina Tosetti

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A busca incessante pela beleza permeou a trajetória humana. Hoje, essa procura individual ou coletiva é capaz de levantar questões sobre como ainda definimos o que é belo em um mundo em constante transformação. Inicialmente, os gregos viam a beleza como um dado objetivo da realidade, refletindo a ordem cósmica e a sua harmonia perfeita. No entanto, essa ideia de um mundo cósmico desvaneceu, deixando-nos sem um parâmetro claro.

Na era moderna, a concepção de beleza se metamorfoseou em estética, centrando-se no estudo das sensibilidades. O belo passou a ser aquilo que proporciona sensações agradáveis aos observadores, explorando principalmente os sentidos, da visão e do tato, por exemplo. Contudo, diante da gritante diversidade humana e universal, surge a indagação: por que existe tanta concordância sobre o que é considerado belo?

O que o conceito de beleza (ainda) significa para nós? Os produtos artísticos, os corpos, os artefatos forjados e ressignificados ao longo dos tempos são capazes de carregar o peso da beleza? Como a arte, desde a antiguidade, nos direcionou para qualificar objetos, pessoas, paisagens? Podemos aqui falar sobretudo das representações, propriamente humanas, criadas pela mente humana. Mas, saberemos dizer de quais mentes desdobraram-se padrões de beleza? A partir de quais locais?

Essas questões são complexas e não há uma resposta definitiva para elas. Pensadores e artistas, através de milênios, deram formas ou indicações do que seria o belo. Acredita-se que a nossa percepção de beleza seja influenciada por uma combinação de fatores, como a biologia, a cultura e as experiências pessoais.

É claro, há tempos a mídia também desempenha um papel significativo na criação de modelos que são amplamente aceitos pela sociedade. No entanto, é crucial questionar o impacto da predominância de um pensamento único, muitas vezes exclusivamente masculino, branco e europeu, que perpetua padrões parciais.

A verdadeira beleza pode residir na diversidade e nas individualidades. Para encontrá-la no mundo contemporâneo, é necessário cultivar diferentes visões e perspectivas. A busca por uma única visão exclui a riqueza de soluções, experiências e vivências de outras culturas e povos. Compreender a realidade, ainda que em partes, requer a valorização de muitas narrativas, reconhecendo o precioso tesouro formado por representações do diferente.

Mesmo com o fim formal do colonialismo o seu conteúdo persiste, especialmente no contexto brasileiro. O decolonialismo, como uma potência transformadora, desafia teses e verdades estabelecidas, permitindo revisões necessárias para que se construam compreensões mais amplas e generosas do mundo.

Com a licença de um ditado popular, a beleza, portanto, não está apenas nos olhos de quem vê, mas também nas formas com que este alguém se relaciona com o mundo. Ao reconhecermos a beleza em nós, nos outros e no entorno, conectamo-nos a algo maior, mais profundo e significativo. Esse encontro pode revelar uma verdadeira essência que transcende as limitações de padrões estéticos impostos, abrindo caminho para uma apreciação mais autêntica da diversidade que, necessariamente, permeia e presenteia a nossa existência.

Fingimento

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,

Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,

Pergunto a mim próprio devagar

Porque sequer atribuo eu

Beleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?

Tem beleza acaso um fruto?

Não: têm cor e forma

E existência apenas.

A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe

Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.

Não significa nada.

Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,

Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens

Perante as coisas,

Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ver senão o visível!

“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.

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Carolina Tosetti

Jornalista pela Universidade Federal de Juiz de Fora, mestre em Ciências da Comunicação, Cultura e Ciência pela Universidade do Porto e pesquisadora especialista em cultura. Dedica-se ao conteúdo na Casa do Saber +. É diretora de comunicação voluntária e curadora no projeto artístico Estação Viva - Canelas, Portugal. Nas horas vagas é também poeta, publicando em antologias e revistas de arte.

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