Psicanálise - 16 de fev

Lacan e a Transformação da Psicanálise por Meio da Linguagem

Por Casa do Saber

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Lacan foi um psicanalista francês (Paris, 1901 -1981) que revolucionou a forma de transmitir a psicanálise e a formação dos psicanalistas, principalmente a partir da década de 60. Ele tinha um projeto de reintroduzir a psicanálise no debate com a ciência. Freud introduziu o conceito do inconsciente e definiu a psicanálise como um método que partia de uma matriz epistemológica baseada na biologia. Lacan, que assim como Freud era médico neurologista, trouxe uma reformulação nesta concepção, onde propôs que a psicanálise poderia se constituir como uma ciência da linguagem habitada pelo sujeito. Ou seja, para ele, o fundamento da psicanálise está na linguística e na forma em que essa ciência se apoia nela para pensar as formas simbólicas, inspirando-se no conceito da antropologia estrutural, de Claude Levi -Strauss.

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Onde se encontra o inconsciente?

Por essa linha de raciocínio, conseguiu pensar sobre o parentesco, mitos, trocas econômicas e sociais como relações estruturadas ao modo de troca de linguagem. Assim, chegou ao enunciado muito conhecido de que o inconsciente se estrutura como uma linguagem. Com essa constatação, responde a uma questão muito importante, onde indica que o inconsciente não se encontra em determinado ponto físico ou em um campo de idealidade, mas, sim, está presente na linguagem e só se mostra para os seres que falam. A linguagem envolve a enunciação, o discurso, a forma como se fala, a língua, a escrita, ou seja, é complexa e subjetiva. Lacan, então, vem nos dizer que o sintoma não é necessariamente um fato biológico, uma incorreção mental, indisposição da vontade ou um problema moral. Em sua concepção, o sintoma tem a estrutura de metáfora. Além disso, traz também que o desejo não ocupa um lugar específico, mas sim, que possui uma estrutura de metonímia e relação de contiguidade, onde vai se transmitindo e se transformando conforme se enuncia, re-enuncia e fracassa em ser enunciado.

A linguagem na transformação dos sintomas

Sua abordagem nos permite repensar a fundamentação da psicanálise em termos de linguagem e, mais adiante, nos termos da lógica, que também é um tipo de linguagem. Essa consideração nos permite entender por que é possível transformar sintomas através da fala. Na terapia, o paciente não faz exercícios corporais ou algum tipo de aula. Ele fala da forma mais livre que conseguir e o analista escuta, diz algumas coisas e faz com que o paciente se escute. Uma vez que observamos que o processo tem eficácia e transforma as relações com os sintomas, compreendemos que esses sintomas têm, em alguma medida, estrutura de linguagem. São afetados e compostos pela linguagem. Essa transformação acontece porque o indivíduo se integra, articula, simboliza, (re)diz e (re)descreve elementos que são componentes dos nossos modos de sofrer.

O legado de Lacan para a Psicanálise

Uma grande contribuição de Lacan foi a de conseguir explicar e trazer o funcionamento desse processo para o nosso entendimento. Ele levantou hipóteses e realizou a ligação do inconsciente e das pulsões com a linguagem. Relacionou também o que Freud chamava de representação, com o que ele chama de significante. E o que Freud chamava de regressão, ele entendia como retornos e repetições, que podiam ser verificados no funcionamento da linguagem. A partir do trabalho realizado, Lacan renovou o entendimento psicanalítico sobre a origem da autoridade e do poder. Para Lacan, o poder devia vir da palavra, da linguagem, das nossas trocas simbólicas e não por qualquer tipo de genealogia, de formato pré -constituído ou de autoridade universitária. Com isso, tornou-se um autor muito bem recebido por teóricos críticos do poder. Ele nos ajuda a entender informações ideológicas, a nossa propensão à servidão voluntária, o nosso desejo de obedecer ao outro e a troca neurótica de segurança por submissão. Assim, estabeleceu-se como um pensador científico por um lado, que reintroduz a psicanálise no campo das ciências, e por outro, um pensador que tem uma valência política interessante no que tange o pensar formas mais democráticas de relação de poder e do saber.

Por Christian Dunker

Este conteúdo foi transcrito do canal da Casa do Saber no Youtube. Para conhecer mais acesse https://www.youtube.com/@casadosaber

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