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Filosofia - 23 de fev

Filosofia na Prática - 3 Aulas para Transformar Sua Vida

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Por Casa do Saber

ícone tempo de leitura Leitura: 13 mins

A partir de 3 aulas dos professores Nina Saroldi, Lucas Nascimento Machado e Clóvis de Barros Filho, trazemos um material que irá te ajudar nas reflexões da vida de forma prática utilizando conceitos abordados pela filosofia. Aproveite, esse conteúdo pode transformar a sua vida!

Confira as 3 aulas inspiradoras em vídeo pelo Youtube:

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AULA 1 - Excitados, Desatentos e Cansados: Notas Sobre a Subjetividade Atual | Nina Saroldi

Nesta aula, a professora Nina Saroldi aborda alguns pontos trabalhados na obra do filósofo Christoph Türke, com foco no livro “Sociedade Excitada - Filosofia da Sensação” (2002), como conceitos atuais da sociedade excitada e microeletrônicamente determinada, a busca incessante pelo sensacional, a compulsão à emissão e o horror ao ócio.

O que hoje é estável no mundo?

Na sociedade atual, a sensação deixou de ser simples e ganhou uma conotação de sensacional, onde tudo deve ser muito intenso. Não basta mais que se toque, sinta ou cheire, as coisas precisam chamar muita atenção. Nesse sentido, Türke considera que atualmente o estável no mundo é a agitação, ou seja, a instabilidade.

Ele analisa que a questão da sensação tem uma pré-história fisiológica até chegar no momento atual, que é de uma disputa muito forte pela nossa sensibilidade em um nível microeletrônico. Os dispositivos midiáticos agarram a nossa sensibilidade o tempo inteiro e as pessoas se acostumaram com isso.

Um exemplo disso foi o surgimento dos jornais como empresas, permitido pela criação de novas tecnologias de reprodução e a facilidade de divulgar a palavra impressa. Se antes se comunicava apenas o essencial, agora inverte-se a ordem entre relevância e notícia em prol de uma lógica empresarial, onde se noticiar vira rotina para que se possa vender e gerar lucro ao jornal. Esse movimento, segundo o autor, faz com que se crie seres demasiadamente excitados.

(Não) parem as máquinas!

A partir do movimento das revoluções, como a revolução francesa, a vida das pessoas passou a seguir o ritmo das máquinas e se tornou acelerada. O movimento era acompanhado pela esperança iluminista de que as mudanças trariam o bem para a humanidade e para o mundo.

Essa promessa foi interrompida pelos horrores da Primeira Guerra Mundial, mas, apesar de toda a miséria e destruição trazida pela guerra, a aceleração do mundo continuou. O excesso de estímulos que logo foi incorporado em todos foi visto, por exemplo, no cinema, que agora apresentava novos ângulos e ritmo acelerado representando a nova dinâmica da cidade e indústria.

Posto (nas redes sociais), logo existo

O quadro de sensações e eventos muito agitados reverberam subjetivamente nas pessoas, que passam a entender que para manter uma vida digna precisam ser notados e percebidos.Na sociedade excitada, a linguagem publicitária se tornou o idioma comum em todas as esferas da vida. E esse movimento para ser notado é fruto dos processos de estetização promovidos pelo capitalismo.

Esse cenário contribui para o que Christoph Türke entende como compulsão à emissão. As pessoas entendem que a presença corporal não é o suficiente se comparada à vida midiática, o que leva as pessoas à necessidade não só de existir, mas de emitir, mostrar que está vivo e dar sinais de vida o tempo todo.

Produtividade x Ócio

Türke vem dizer também que essa compulsão à emissão está associada a um horror ao ócio. Se na antiguidade grega, por exemplo, a ociosidade era vista como sinal de plenitude, hoje, o capitalismo conseguiu esvaziar completamente o lugar do ócio. Tudo se transformou em negócio e, ao seguir a lógica capitalista de produção que não para, nos habituamos tanto à ocupação que, quando o trabalho acaba, não sabemos o que fazer. Padecemos de uma forte inquietação motora em que precisamos sempre ser produtivos. Por conta dessa sensação, a todo momento pegamos o celular ou ligamos a televisão, devido a ideia de que precisamos sentir que estamos fazendo alguma coisa. E, por isso, ele vai dizer que a nossa sociedade é excitada e microeletronicamente determinada.

AULA 2 - A Filosofia de Byung-Chul Han - Para (Re)pensar o Mundo e o Humano | Lucas Machado

Nesta aula, o professor Lucas Machado busca fazer uma introdução ao pensamento do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han e a maneira como ele pensa a vida sob a lógica capitalista. Segundo o autor levanta, o modo de vida no capitalismo, de uma maneira geral, é o de existência econômica, no qual introduz o conceito de que mais capital equivale a menos morte. Ele entende que o propósito da vida sob o regime capitalista é o de preservar a si mesmo e prolongar a sua vida o tanto quanto possível diante da morte por meio do acúmulo do capital.

Dessa forma, pode-se compreender o papel do trabalho na geração de capital e na forma de garantir a sobrevivência e preservação da própria identidade. E, a partir dessa análise, Byung-Chul Han vai identificar que os mecanismos por meio dos quais essa lógica capitalista irá operar transfigura-se ao longo do tempo, determinando dois momentos distintos para tal.

A negatividade e a sociedade disciplinar

No primeiro momento, o filósofo traz que o principal modo da existência econômica para dar continuidade a si mesmo é o que ele chama de negatividade. Nesse contexto, inspirado no conceito de “sociedade disciplinar” de Focault, analisa que existe uma busca por estabelecer um limite rígido entre o “eu” e o “outro”, onde o indivíduo constitui um espaço no qual se relaciona apenas consigo mesmo (oikos), enquanto forma um outro espaço distinto em que se relaciona com tudo o que está fora no mundo.

Ele coloca que toda relação que se tenha com o outro se torna, na verdade, uma relação que serve para prolongar e reforçar a própria existência. Por isso mesmo, não é uma relação de fato com o outro, mas uma relação consigo mesmo por meio do outro, em que transforma o outro em uma ferramenta para algo que gira em torno da preservação da própria existência.

Excesso de positividade e a sociedade do desempenho

Em um segundo momento, a sociedade passa por uma mudança de paradigma, que vai culminar no que Han chama de “sociedade do desempenho”. Dessa vez, a lógica não será mais a negatividade e a ideia de exclusão do outro, mas funcionará a partir do excesso de positividade, em que entende-se que a maneira mais eficaz de produzir - e, por isso, lutar contra a morte - é não impor limites claros sobre essa atividade que se gera o capital e que passa a permear todas as esferas da vida.

Em sua visão, essa configuração de existência econômica é muito mais opressora do que aquela caracterizada pela negatividade da sociedade disciplinar. Por se desfazer das distinções que separam o “eu” do “outro”, o indivíduo passa a se afirmar a cada instante, por meio de tudo o que faz, e não encontra nada que se oponha à afirmação de si mesmo e da própria existência. Esse comportamento leva ao que Han chama de “inferno do igual”, onde as pessoas não se colocam diante de experiências transformadoras, pois em tudo encontram sempre o mesmo modo de existir.

Compulsão de sobrevivência e as redes sociais

Essa compulsão de sobrevivência se traduz na atividade de buscar afirmar a sua capacidade como indivíduo por meio da produtividade e daquilo que faz, pois apenas por meio dela consegue se considerar, de fato, livre. Então, enquanto na sociedade disciplinar o trabalho contribuía para o propósito de preservar a sua existência, na sociedade do desempenho, o trabalho - ou que se visa produzir para o meio do trabalho - passa a ser, antes de tudo, essa busca por produzir a afirmação de si próprio.

Um exemplo claro dessa configuração são as redes sociais, onde já não se passa mais pela mediação com o outro e,por isso, não há algum tipo de resistência que me force a relacionar com ele para converter em algo que possa servir ao propósito de prolongar a minha existência. Nela, o que você está produzindo é imediatamente a si mesmo e é aquilo por meio do qual você espera dar continuidade à própria existência. E, por isso, para Han, essa acaba sendo uma forma de capitalismo muito mais eficaz em sua demanda de produtividade. Isso acontece devido à sua demanda de triunfar sobre a morte, mas, também, ao mesmo tempo, muito mais exploratória e que depreda, em certo sentido, de uma maneira muito mais profunda a existência humana.

AULA 3 - Guia Filosófico das Novas Questões da Humanidade | Clóvis de Barros Filho

Nesta aula, o professor Clóvis de Barros Filho traz algumas reflexões sobre o futuro, incertezas, responsabilidades e esperança. Assuntos que se relacionam diretamente com a vida vivida por cada um de nós.

Quando iniciamos a nossa vida, ela é determinada pelas sensações, onde buscamos curtir os momentos prazerosos e evitar aquilo que dói. Portanto, passamos todo o tempo sentindo, experimentando e lidando as consequências dessa experimentação. À medida que a sociedade vai nos abastecendo de códigos, entendemos que precisamos de uma inserção no mundo social. Vamos interagindo, aprendendo palavras e construindo discursos rudimentares que vão se sofisticando até atingir maiores níveis de abstração. Na sequência, nos damos conta que precisamos ter um discurso sobre nós mesmos. Esse discurso será atravessado por uma série de informações que, em grande medida, vão satisfazer uma expectativa de nós mesmos, mas, também, uma expectativa social.

A partir das experiências que vão sendo vividas, conseguimos entender que essa identidade construída pode ser redefinida pouco a pouco, sempre de maneira suave para não causar grande perturbação social. Podem se tratar, por exemplo, de gostos, orientação sexual ou mudanças profissionais, em que você negocia essa renovação de si mesmo com a sociedade. Com o tempo, percebe-se também que há um trabalho dramático de perda ao se tomar uma decisão, de tal maneira que é imprescindível que tenhamos alguma razão de ser, uma coerência que justifique nossas escolhas e que dêem a nítida impressão de que faz sentido ir naquela direção.

É possível viver uma vida feliz sem propósito?

Embora tenhamos diversas pesquisas e publicações que se proponham a dimensionar o que é sucesso ou fracasso, é fundamental notar a importância da filosofia na construção de uma experiência subjetiva nesta formulação. Ela devolve a autonomia e o entendimento de que cada um de nós tem uma essência, uma natureza própria, e que, no processo de conhecer a si mesmo, você se torna a pessoa mais habilitada para diagnosticar no que você é poderoso e no que é frágil. Ao tomar o protagonismo da própria vida, chegamos a um ponto importante, que é o propósito. O propósito remete ao futuro, onde penso o que vou fazer para que algo aconteça no mundo - seja de efeito individual ou coletivo - traçando um caminho para a realização de um desejo do qual contribuirei para acontecer. Será possível uma vida feliz sem propósito?

Na filosofia antiga, encontramos muitos pensadores a dizer que o futuro - que é onde o propósito se insere - é uma desgraça, tal como o passado. Pois toda vez que você escapa para o passado, na nostalgia, ou para o futuro, no propósito e na esperança, é sinal de que a vida está entediante e insuficiente. A exemplo, a pessoa não iria interromper um momento intenso em uma noite com uma pessoa desejada no motel para definir um propósito. Isso acontece em momentos que o presente não está tão interessante, o que é muito comum de sentir. A vida não tem essa intensidade a todo momento, não há como sempre estar empolgado e animado com tudo. Planejamos o que vamos fazer no dia, enfrentamos o trânsito, pensamos no que vamos fazer antes de ir para o trabalho e no que vamos fazer depois. Então, é normal que o passado e o futuro tenham algo a nos dizer em momentos em que o presente esteja frouxo e entediante. E, talvez por isso, ter um propósito, ou seja, um objetivo ou meta para se alcançar, possa ser muito útil para esses momentos em que a vida não é plenamente satisfatória a todo o tempo.

A eternidade é um presente que não vira passado

Ao pensar sobre o futuro que é projetado, devemos considerar que o encontro com o mundo e a vida estão sempre no presente. E, aí sim, existe uma certa eternidade, pois se a eternidade é o presente que não vira passado, nós estamos sempre no presente. Então, frente a esse futuro, você pode dar coerência à sua caminhada, não tendo que redefinir cada passo da sua vida a todo instante. A sociedade também ajuda muito na construção desse futuro, pois premia certos projetos, enquanto renega outros.

É muito comum que a sociedade aplauda alguém que busque uma vida material mais confortável, mas que se assuste e rejeite uma decisão contrária à essa, em que se escolha desapegar do luxo e bens materiais em busca de elevação espiritual, por exemplo. O futuro pode ser construído a várias mãos visando conseguir, juntos, uma mesma coisa. É possível, por exemplo, pensar coletivamente numa organização social que ainda não exista a partir de um certo número de valores, como o desapego, a não-propriedade, a não-posse e assim por diante. A utopia pode servir como norte para muita gente em termos de definição de uma forma justa de convivência.

Somos condenados a ser livres

Para muitos, a razão de estar onde está é sempre uma causa alheia à sua vontade - o que alguns chamam de má-fé. A má fé é caracterizada pelo momento em que você não chama para si as rédeas da vida e costuma acontecer quando as coisas não estão dando certo. Nesses casos, sempre a justificativa remete à uma série de causas externas que são determinantes em sua vida. Pode ser o tempo, o mercado, a conjuntura política, etc… Você sempre terá uma causa plausível para estar onde está, mesmo que isso não te seja completamente favorável. Portanto, evidentemente, você se dá conta que a vida depende das tuas escolhas e isso é imperativo, pois mesmo a opção de abrir mão de escolher já implica em uma escolha. E é exatamente por isso que você é condenado a ser livre.Nós somos a cada passo concernidos e responsáveis por onde estamos e pelo que estamos fazendo. Como são muitos caminhos possíveis a todo momento, você acaba se servindo de mecanismos redutores dessa complexidade existencial para diminuir a angústia ante a liberdade que se impõe, onde você mesmo abre mão de um pedaço dessa liberdade.

Essa angústia se traduz também quando você se vê fazendo sempre uma coisa por conta de uma outra, e assim por diante. Talvez pudéssemos chamar isso de uma sensação de náusea, onde você percebe que as suas partes têm sentido entre elas, mas o todo não tem sentido nenhum. E, para acabar com essa náusea, é como se fosse preciso em algum momento quebrar a cadeia de utilidades. Então, é preciso em alguns casos romper essa cadeia de nexos e vivenciar a experiência por ela mesma. Ao invés de ler Machado de Assis para o vestibular, vá ler Machado de Assis pela obra e não por um outro objetivo paralelo. E, na hora da intimidade, não faça dela mais uma oportunidade utilitária, pois aí realmente perdemos as esperanças de romper a escravidão dos nexos de utilidade.

Vivemos numa época que aplaude sucessos individuais e projetos que trazem lucro para grupos, organizações, empresas e tribos. Portanto, vivemos numa época de super-particularização das reflexões sobre a vida. Talvez tenhamos perdido a competência para refletir sobre a humanidade e nos satisfeito com a ideia de acumular reconhecimento, riqueza ou patrimônio sem nos perguntar o passo seguinte, quais os reais valores que isso tudo poderá permitir obter e alcançar. Talvez tenhamos perdido, em algum lugar, a possibilidade, como em outros tempos, de pensar no que é bom para todos. No final das contas, a humanidade não é uma definição que se impõe a nós, ela resulta das nossas decisões, caminhos, valores, enfim, da nossa vida. É aquilo que fazemos, a maneira como vivemos e, sendo assim, em nossas reflexões sobre como a nossa vida deve ser, talvez tenhamos perdido essa dimensão em algum lugar do passado.

Este conteúdo foi transcrito do canal da Casa do Saber no Youtube. Para conhecer mais acesse https://www.youtube.com/@casadosaber

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